10 DE JUNHO DE 2019
Comunicado do Grão Mestre
Mais que comemorar uma data plena de simbolismo e de evocação pelo nosso devir histórico, impregnado de coragem exemplar, de secular perseverança irredutível e expectativa inabalável, cumpre-nos honrar hoje, a memória colectiva de um povo e de uma antiga nação, reafirmando o ensejo de uma profunda reflexão sobre o nosso processo identitário (o que fomos, o que somos, o que seremos?) a par da vontade constantemente reafirmada de superação de todos os obstáculos que configuram a crise do quotidiano o e da globalização.
A consciência da nossa história e das “estórias”mítico – lendárias que por ela perpassam, configurando elementos decisivos daquilo que designamos por “portugalidade”, revela-se afinal num potentíssimo e decisivo motor para a acção e missão ecuménica, válida, afinal, para outros espaços e culturas que ultrapassam os nossos limites geográficos. Tudo isso ciclicamente renovado através das épocas transcendendo a mera territorialidade geográfica e factual, transporta-nos para um tempo – espaço outro, coabitado por deuses e demónios, vivenciado no mais profundo do imaginário humano que designamos por ”alma portuguesa”.
Bem sabemos que não se passa “o Bojador sem experiência da dor”, o que permite, de resto, saborear plenamente a vitoria (sobretudo quando difíceis e perigosas) quando alcançámos o objectivo. Mas toda essa riqueza patrimonial, se condensa nos símbolos que no Rito Português da Grande Loja Soberana de Portugal, cuja prática e pedagogia exprime a cíclica actualização das narrativas míticas originais, onde assenta o início do nosso processo identitário. Rito Português, que não se deixa cristalizar numa perspectiva estática porque consubstancia um amplo debate dinâmico que se pretende amplamente partilhado, enfrentando os processos disfuncionais da época actual em ordem a fornecer um contributo para o renovar ou incentivar os valores humanísticos que sempre perfilhamos e disseminamos.
Somos parte de muitos milhões que falam a língua portuguesa, o que, sendo sem dúvida, já de si notável, mas mais acresce, o facto de que a apreensão do mundo, se fazer desse modo, “á maneira portuguesa”, no interior de uma matriz (matéria/mater/mãe), em que ressalta um eterno principio feminino (V. Dalila Pereira da Costa, Durand, Agostinho da Silva e outros), na trama primordial do nosso desenvolvimento intelectual e humanístico, enquanto colectividade. Ao insigne poeta Luís de Camões, como chama inextinguível de uma arte que se prolongará para a eternidade, cumpre honrá-lo, bem como a uma língua portuguesa, de que foi mestre inexcedível, veículo estruturador deste pensamento e acção, que neste dia encontra celebração colectiva de um Portugal que pretende projetar-se numa modernidade harmónica por todos partilhada.
João Pestana Dias
Grão-Mestre da Grande Loja Soberana de Portugal